Estava andando por aí e dei de cara com o Amor. Ele andava chutando pedrinhas no asfalto, meio cabisbaixo, bem tristonho mesmo e com aquela cara murcha de quem comeu e não gostou. Perguntei a ele qual o motivo de tanta deprê e ele me respondeu assim:
_Ah minha querida, você que é tão menina talvez mal me conheças e com isso não me compreenderás, mas tenho de confessar-te que ando só por falta da Amizade. Sem esta não sou nada do que achas que sou.
Realmente não entendi. Quis saber qual a relação entre o Amor e a Amizade, já que pra mim, reles mortal, um sentimento não poderia se misturar e nem dependeria do outro para existir.
Então disse ao Amor:
_Não entendo mesmo. Você, Amor, é único e poderoso. È auto-suficiente, nasce sozinho e não deve se misturar com a Amizade. Isso pode fazer a gente perder mais do que ganhar. Então te pergunto, grande Amor: para que precisa tanto a Amizade?
E ele, calmamente, me respondeu:
_Acontece minha menina, que eu sem a amizade não sobrevivo. Não posso ser 'eterno enquanto durar' como declamam os poetas, nem posso ser 'o calor que aquece a alma' como cantam as canções. Sem a Amizade eu sou doença, só faço mal a quem me sentes e ainda mais a quem me recebes. Preciso dela para não ser egoísta e muito menos possessivo. Ela me traz respeito, confiança, companheirismo e me ensina a ser compreensivo. Ah menina! Se um dia me encontrares novamente, traga a amizade consigo. Porque esse seu grande Amor também deve ser seu Melhor Amigo!
"O Amor, para durar, tem de ser também confiança, também estima. Isto é, deve adquiir algumas das propriedades da amizade"
Francesco Alberoni
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