A Entrega

Nascemos com o medo de amar plantado em nosso coração. Com o passar dos anos, ele vai se aflorando e se espalhando do coração para a cabeça. Uma metástase.
Só que o mais surpreendente e contraditório é que, no fim da vida, o que mais nos marca e ascende a luz da saudade do passado, são as lembranças de quantas pessoas amamos, nos amaram, de todo o amor que distribuímos (de graça), recebemos e retribuimos por todo nosso caminho.
As melhores músicas, filmes e poemas falam de amor. E esse é o sentimento que nos cria, mantém e que nos finda. Aonde tudo começa. Aonde tudo termina.
Deve-se então, temer o medo de amar. Deve-se temer não poder dividir um amor com alguém e assim multiplicá-lo. E, acima de tudo, deve-se temer SER AMADO E NÃO SER CAPAZ DE AMAR.
Nada melhor que a entrega.
Que o salto mortal na piscina.
Que a dor do amor perdido se perdendo na alegria do novo amor.
Nada melhor que abrir o coração e por tudo pra fora, estampar na cara da gente o tão temido "eu te amo".
"- Vamos devagar..."
Pra quê? Me diz.
O bom da vida é dizer mais sim do que não, se permitir. Não quer se envolver? Namore uma planta então, disse Jabour.
Samambaias são cegas e mudas. Duram um bom tempo. Não fazem cobranças nem perguntas. Não fazem carinho. Não fazem amor. Precisam de cuidados especiais e não te oferencem nada em troca. Nenhum benefício. Já tive o desprazer de me esbarrar com algumas pessoas samambaias por ai. Pobre delas.
Enfim, o bom da vida é saber amar o que se tem, o que se pode e o que se quer ter.
Já dizia o poeta:
"Tão bom morrer de amor e continuar vivendo."