terça-feira, 10 de agosto de 2010

Tudo culpa das minhas unhas


Acabaram-se minhas horas e dias de folga.
Acabaram-se minhas desculpas para beber.
Acabaram-se meus gritos de gol.
Tudo culpa das minhas unhas.
Você deve estar se perguntando: do que é que ela está falando? Vou explicar desde o começo.

Era uma vez uma família grande - a minha - que sempre se reunia por qualquer motivo, até mesmo quando não havia um. Uma família que sempre se juntava em qualquer ocasião, inclusive para assistir aos jogos do Brasil em Copas do Mundo.
Na Copa de 1998 não foi diferente. A familia se reuniu na casa do Vovô, patriarca da família, enfeitou a casa e as janelas com balões verdes e amarelos, pendurou a bandeira do Brasil do lado de fora da casa e fizeram farra em todas as vitórias. Na final entre Brasil e França alguém se esqueceu de comprar os balões verdes e amarelos. Então os adultos colocaram as crianças (eu era uma delas) doidas atrás dos tais balões pelas ruas de um pacato bairro em Belo Horizonte. Mas parecia que os balões verdes e amarelos tinham entrado em extinção meia hora antes do jogo começar e as crianças não sabiam o que fazer. Por 'sorte' encontraram somente balões azuis. "Já é alguma coisa. Não tem tu, vai tu mesmo." - pensaram as pobres. Mas elas, tão pequeninas, não sabia que azul era a cor do uniforme dos 'Bonjour mademosele' e aquilo era um presságio de uma desgraça iminente. E não de outra. O Brasil perdeu, as crianças choraram, os adultos estouraram os balões com toda a ira que só há nos corações dos seres derrotados, as crianças choraram mais ainda e por uma semana ouvimos as tias reclamando que a culpa da derrota do Brasil para a França, na casa deles, era dos nossos humildes balões azuis pregados na janela da casa do Vovô na pacata cidade de Belo Horizonte.
Se o tempo voltasse e Se eu já soubesse que essa história de balões azuis poderia dar errado e Se soubesse da cor do uniforme da seleção francesa, tudo isso com meus 9 aninhos de idade, eu não teria comprado balão algum. Ou teria comprado bandeirolas. Ou teria comprado balões brancos, pretos, rosas... e assim teria salvado nosso Brasuca e seus 190 milhões de habitantes (menos, naquela época).
Na Copa do Mundo de 2002 fizemos tudo como manda o figurino e o Brasil foi penta.
Já na Copa do mundo de 2006, especificamente nas quartas de final entre Brasil e Itália, a família resolveu assistir ao jogo na pizzaria do Boris, marido de uma das minhas primas. O erro? Ele, Boris, dono do restaurante e marido de uma das minhas primas, é italiano. Italiano legítimo. Daqueles importados de Veneza, que devem saber remar aquelas gondolas da cidade mais romântica do mundo. Italianíssimo. E não deu outra, o Brasil perdeu para a Itália e em meio ao silêncio dos inocentes do restaurante, só se ouvia os gritos do Boris, marido italiano de uma das minhas primas, ecoando nos corações vazios dos brasileiros que lá se encontravam. Acredito eu que metade da cidade também ouviu esses gritos, tamanho era o silêncio no país. Nós, as crianças de 98, já éramos adolescentes em 2006 e não choramos pela derrota, mas, como em 98, passamos uma semana ouvindo as tias dizendo que a culpa da derrota do Brasil para a Itália LÁÁÁÁ na Coréia do Sul, era do Boris, marido italiano de uma das minhas primas, da sua pizza de receita italiana e do seu restaurante italiano na praça de alimentação de um shopping na pacata cidade de Belo Horizonte.
Se o tempo voltasse e se eu tivesse me lembrado que o Boris, marido italiano de uma das minhas primas, era um gringo pé frio que daria o maior azar para a nossa seleção canarinho, eu, provavelmente, teria assistido ao jogo em uma churrascaria, ou em uma roda de samba, ou em uma roda de capoeira, tomando caipirinha e comendo torresmo beeeem longe do Boris.
Agora já posso explicar a história das unhas.
Copa de 2010

No dia do jogo das oitavas de final, na segunda-feira entre Brasil e Chile, pintei minhas unhas com um esmalte quase alaranjado (ficava alaranjado no sol). Ficou bonito e durou o resto da semana. Então na quinta-feira, véspera do jogo das quartas de final entre Brasil e Holanda, me lembrei dos erros cometidos. Me lembrei das gafes nas cores dos balões em 98 e da escolha do restaurante em 2006 e pensei, olhando para as minhas unhas alaranjadas: O jogo é entre Brasil e Holanda. Na televisão disseram que o apelido da seleção holandesa é Laranja Mecânica. Logo o uniforme que eles devem usar é alaranjado. Passei correndo em uma loja e comprei um esmalte VERDE, um AMARELO e um AZUL. Eu sabia que era preciso realizar essa proeza de pintar cada unha de uma cor, nas cores da nossa bandeira, em nome de toda uma nação esperançosa pelo Hexa. As minhas unhas não seriam as culpadas da volta da seleção para o Brasil com as mãos abanando.
Mas foram.
Foram porque eu simplesmente me esquecí de fazer as unhas. Me esquecí de, ao menos, tirar o esmalte alaranjado. E quando o Brasil já perdia de 2x1, com um jogador a menos e os demais desesperados em campo, meu 'namorido' se lembrou das minhas unhas e me entregou os esmaltes verde, amarelo e azul e disse: _Tira logo esse trem da unha amor! Então como se eu fosse tirar a mãe da forca, saí na busca da misericordiosa acetona, tirei o esmalte alaranjado correndo, pintei cada unha de uma cor - verde, amarelo e azul - como se cada dedo meu fosse uma arma de grosso calibre contra a Holanda e fiquei mandando 'positive vibration' para a nossa TV com a imagem tão ruim quanto um estado grave de catarata. Mas de nada adiantou. Já era tarde demais. O Brasil acabou perdendo. Nós perdemos. Eu tirei aqueles esmaltes barangos das unhas para não passar vergonha. Guardei minha camisa na gaveta. E como na Copa de 98 e na Copa de 2006, em 2010 ouví do meu 'namorido': A culpa é da sua unha!!!
Vamos ver se na próxima Copa do Mundo, que vai ser aqui no Brasil, eu me tranco num quarto.


P.S. Post atraso né =/
è que eu tava sem Net...

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